É preciso avançar na legislação para garantir respeito às religiões de matriz africana, defende Sâmia

A deputada foi ao terreiro de Urubatão da Guia, na região do Ipiranga, e viu de perto o trabalho do pai Gui: superação, resistência e inclusão LGBTQIA+.

6 mar 2023, 23:29 Tempo de leitura: 2 minutos, 17 segundos
É preciso avançar na legislação para garantir respeito às religiões de matriz africana, defende Sâmia

Fonte: Divulgação/T.E.U. Urubatão

Na Vila Moinho Velho, bairro da Zona Sul de São Paulo, fica localizado o terreiro de Umbanda Urubatão da Guia. O templo que celebra a tradição afro-brasileira é comandado pelo pai de santo Gui Watanabe, jovem líder religioso dedicado a promover a inclusão da população LGBTQIA+ a partir da experiência pessoal de discriminação que sofreu por parte de sua família. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL) foi até lá para conhecer mais dessa história de luta e resistência.

“Os terreiros não são comunidades fechadas em si mesmas. São espaços que recebem, todos os dias, pessoas que vivem na atual sociedade e, devido às violências e atravessamentos dos mais distintos, acabam adoecendo [espiritualmente] e nos buscando para a cura de seus problemas”, conta o pai de santo.

Nascido numa família de longa tradição umbandista, Gui foi expulso de casa e do terreiro regido por seu “pai carnal” em 2015, após expor que era gay. “Apesar da Umbanda ser esse local que, historicamente, abriga nossos corpos LGBTs, assim como tantas outras pessoas que conheço, eu passei por isso. Opressão e violência dentro de casa, homofobia”, conta. Diante da situação de vulnerabilidade e solidão, foi na própria religião que ele acabou encontrando o acolhimento e proteção que precisava.

“Os terreiros são unidades de preservação da cultura preta no Brasil, mas também espaços políticos que acolhem corpos e experiências marginalizadas, como é o caso da população LGBTQIA+”, explica Gui, que também é historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP). Sua pesquisa é voltada à valorização e resgate da Umbanda sob uma perspectiva mais acolhedora e plural. Com esse intuito, também idealizou o Coletivo Navalha, formado por pessoas LGBTQIA+ de terreiro.

Durante a visita, Sâmia se emocionou com o relato: “O terreiro do pai Gui, além de ser uma afirmação à resistência da Umbanda, é também um centro de grande referência para a população LGBTQIA+, um espaço de acolhimento e respeito que merece ser apoiado e celebrado por todos nós”. A deputada também defendeu que, para combater a intolerância e o racismo religioso, é fundamental avançar numa legislação que garanta respeito aos povos e religiões de matriz africana “que, infelizmente, sofrem com diferentes ataques e muito preconceito”.

Para Gui, o combate à LGBTfobia e o racismo religioso está atrelado ao diálogo entre as comunidades e a política institucional. “Espero que mais representantes do poder público possam vir e se aproximar das nossas lutas, que são conjuntas por um país de menos violência e desigualdades”.