A rua é do povo: Contra a censura aos Blocos de Carnaval de São Paulo
Artigo da deputada federal Sâmia Bomfim
19 abr 2022, 10:16 Tempo de leitura: 3 minutos, 3 segundosDesde o início da última década, o carnaval de rua da cidade de São Paulo tem sido um dos maiores acontecimentos culturais do país. A tradicional festa popular gera trabalho e renda a milhares de pessoas que trabalham o ano todo nessa produção. Contudo, por causa da pandemia da Covid-19, o carnaval não pôde acontecer nos últimos dois anos, deixando centenas de trabalhadores de blocos, trabalhadores de rua e foliões à espera deste retorno.
No final do ano de 2021, a prefeitura de São Paulo cadastrou mais de 700 blocos carnavalescos, dos mais diversos tipos, para a festa do ano seguinte. Porém, com o novo aumento do número de casos do coronavírus no início deste ano, o órgão adiou a realização do Carnaval 2022 para o feriado prolongado de 21 de abril. Todavia, há poucas semanas, determinou que apenas o desfile das escolas de samba da cidade seria realizado, vetando o cortejo nas ruas. Sem diálogo real com os blocos carnavalescos e sem explicações plausíveis por parte da prefeitura, a resposta dos blocos de carnaval de rua foi imediata: lançaram no início deste mês, um manifesto intitulado “MANIFESTA CARNAVAL DE RUA LIVRE COM DIVERSIDADE E DEMOCRACIA! Contra a violência policial e contra a censura” (veja aqui).
O Manifesto, assinado por dezenas de coletivos ligados ao carnaval, defende que, mesmo com a não liberação da prefeitura, alguns blocos seguirão em cortejo, pois “a garantia da manifestação livre é direito constitucional” e é de extrema importância que seja garantido o direito à folia e à não repressão policial aos blocos que forem às ruas nos próximos dias. O carnaval de rua é uma tradição secular, manifestação mundial e de origem popular que sempre foi além das burocracias do Estado. Está em sua essência a livre manifestação. A falta de diálogo da Prefeitura de São Paulo com os Blocos da cidade e o preterimento à realização única dos desfiles no Sambódromo do Anhembi (que também gera aglomeração) demonstra a preferência da gestão de Ricardo Nunes que, desde quando era vereador, já era conhecido por não dialogar com os movimentos culturais e a diversidade das demandas populares.
É de suma importância, neste momento, garantir que não haja qualquer tipo de violência do Estado contra os blocos que decidirem seguir em cortejo pelas ruas de São Paulo nos próximos dias. Temos a expectativa de sair deste processo doloroso, de tantas perdas, tristezas e que nos trouxe tanta desesperança e desemprego. Portanto, é natural que a manifestação carnavalesca aconteça nas ruas de São Paulo. A prefeitura de São Paulo, bem como o Governo do Estado, precisam garantir que não aconteça qualquer tipo de censura, punição ou perseguição aos blocos da cidade ou qualquer tipo de cidadão que decidir se somar a estes eventos, sejam eles foliões ou mesmo ambulantes que eventualmente estejam em busca de complementar sua renda. E, se for o caso, devem apoiar estes blocos com infraestrutura, pois há destinação orçamentária para a festa na LOA 2022.
Nosso mandato manifesta solidariedade a toda a coletividade dos blocos de rua, que desde o início da pandemia tem agido com completa responsabilidade e que agora, sem abrir mão dessa mesma responsabilidade, afirma a importância de ocupar as ruas. No próximo feriado, estaremos atentas e de prontidão para apoiar aquelas e aqueles que fazem acontecer este tradicional momento da cultura popular.