Bilionários não deveriam existir
Artigo da deputada federal Sâmia Bomfim para a Folha de São Paulo
12 maio 2022, 15:50 Tempo de leitura: 2 minutos, 53 segundosO brasileiro que vai ao supermercado percebe a vida cada dia mais cara. E ainda são muitos os que sequer podem ir às compras. De acordo com dados recentes, pelo menos 12 milhões de brasileiros estão desempregados. Outros 5 milhões estão em desalento. 19 milhões passam fome e metade do país vive em insegurança alimentar.
Diante de tanta pobreza, miséria, fome e desemprego, um dado chama atenção: o número de bilionários no mundo e no Brasil. São 42 novos bilionários brasileiros na lista da Forbes do ano de 2021. Trata-se de poucas dezenas de pessoas que acumulam, sozinhas, fortunas em uma escala inimaginável. Essa concentração de renda se dá, de um lado, a partir da exploração de milhões de trabalhadores, e de outro, das “facilidades” corruptas forjadas por governos e poderosos.
Recentemente, virou notícia a compra do Twitter por Elon Musk, por 44 bilhões de dólares (mais de 200 bilhões de reais). Musk acumula uma fortuna de mais de 260 bilhões de dólares. Sua família, sul-africana, enriqueceu durante o Apartheid, explorando jazidas de esmeralda. Face ao escândalo, afirmei em minhas redes sociais e reafirmo: Bilionários não deveriam existir! Também não deveriam existir a fome, a miséria e a exploração humana, fenômenos correlatos à existência de bilionários.
No dia 4/5, na Folha de São Paulo, o presidente de um instituto neoliberal, Helio Beltrão, publicou um artigo, na tentativa de rebater meu posicionamento, intitulado: “Quantas Sâmias fazem um Elon Musk?”.
O texto baseia-se na típica e falsa defesa da meritocracia, recorrente entre os “liberais” brasileiros. Diga-se de passagem, em geral, são liberais preocupados com as liberdades de seus próprios negócios e lucros, mas não com a liberdade das pessoas. Além disso, esses liberais são os primeiros a procurarem e serem salvos pelo Estado quando seus lucros estão em risco.
Para o autor, no capitalismo, os empresários enriquecem porque criam produtos eficientes. Logo se percebe que, para ele, não existem trabalhadores, a classe que de fato produz a riqueza e os produtos no mundo, a troco de baixíssimos salários.
Outro argumento roto é o de que, taxando grandes fortunas, a economia quebra. Assim, os liberais tentam nos convencer de que a existência dos bilionários favorece a maioria da população. Mas o que ocorre é justamente o contrário.
Como líder do PSOL na Câmara dos Deputados, luto pela aprovação do PLP 277/08, que prevê a taxação de fortunas no Brasil. A medida, que é simples e prevista em nossa Constituição, reverteria o cenário atual, em que só os pobres e a classe média pagam imposto para valer. Consequentemente, teríamos mais recursos para a educação e a saúde, para o combate à desigualdade e para efetivação de direitos. Teríamos mais justiça, assim como outros países no mundo já fizeram.
É claro que Beltrão, em seu artigo, ainda atacou os “políticos”, tentando me atingir. Mas, ao contrário de muitos deputados que se autodeclaram liberais e defendem os bilionários, votei contra o fundo eleitoral extravagante articulado por Bolsonaro e o Centrão.
Corruptos e bilionários andam, geralmente, de mãos dadas. E para mim, nem os primeiros nem os segundos são objetos de estimação.