“Réulator”: na CPI do MST, Sâmia confronta Salles e expõe lista de crimes pelos quais ele é acusado
Na véspera da sessão, a Justiça Federal do Pará acatou uma denúncia do MPF que tornou o bolsonarista réu por crimes que teriam sido cometidos durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente
31 ago 2023, 19:11 Tempo de leitura: 3 minutos, 23 segundosA deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) iniciou a sessão da CPI do MST, na última terça (29), trazendo à tona a decisão da Justiça Federal do Pará de tornar Ricardo Salles (PL-SP) réu por crimes que ele teria cometidos durante o período em que foi ministro do Meio Ambiente, no governo Bolsonaro. A parlamentar ironizou o relator da comissão, chamando-o de “réulator”, e exibiu cartazes que estampavam, em letras garrafais, a extensa lista de delitos atribuídos ao acusado.
“Foi escolhido por essa comissão um relator. Desde o início, a escolha desse relator tinha muito questionamento, tendo em vista seus interesses diretos em desmobilizar a reforma agrária no país para atender aos financiadores diretos da sua campanha, bem como sua ação pretérita e hoje presente de defender latifundiários. Mas, os últimos acontecimentos tornam ainda mais grave a presença desse sujeito na relatoria”, apontou Sâmia.
A titular do PSOL na CPI se referiu à denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) e acatada na segunda (28), véspera da sessão, pela pela 4ª Vara Criminal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) do Estado do Pará. Salles foi denunciado no processo que investiga a exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos. Ele responde por instrumentalizar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para criar condições favoráveis ao tráfico do material proveniente da Amazônia. Segundo a Polícia Federal, as cúpulas do ministério e do instituto manipularam pareceres e documentos.
A deputada prosseguiu sua fala erguendo placas que descreviam as denúncias contra Salles. “Caso meu microfone seja mais uma vez cortado, trouxe aqui para ninguém ter dúvida”, justificou. Foram dez cartazes, um para cada crime pelo qual Ricardo Salles vem sendo investigado. São eles: corrupção ativa e passiva; prevaricação; advocacia administrativa; facilitação de contrabando; desacato; crime contra a administração ambiental; obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do poder público; falsidade ideológica; violação de sigilo funcional; e organização criminosa. Quatro desses delitos constam na denúncia em que o ex-ministro virou réu.
“Porque agora ele não é mais só um relator, é um ‘réulator’, tendo em vista que o MPF pediu e foi acatado que ele fosse considerado réu por uma série de crimes”, completou Sâmia. “Todo esse desperdício de dinheiro público e energia não serviu para vocês criminalizarem absolutamente ninguém. O MST está fortalecido e são os membros desta CPI, dentre eles o relator, que estão tendo de se justificar com a Justiça e que correm o risco de, cedo ou tarde, serem presos”.
Começo do fim
A sessão da CPI foi marcada ainda por diversas derrotas para a base do “agrogolpismo”. Primeiro, o presidente Luciano Zucco (Republicanos-RS) não conseguiu colocar em pauta um requerimento de autoria do deputado Kim Kataguiri (União-SP), que pedia a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de João Pedro Stédile, líder nacional do MST.
Depois, oposição também tentou convocar o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento, Edegar Pretto, mas a votação resultou em empate de 13 a 13, o que provocou não apenas a rejeição do requerimento como também riso e deboche entre os presentes. Em meio ao fiasco e tanta frustração, os bolsonaristas desistiram de tentar convocar o ministro dos Transportes, Renan Filho.
“Entendemos que os requerimentos, neste momento, não têm como serem aprovados, uma vez que houve a mudança prevista regimentalmente na composição da CPI. Sugiro o encerramento da sessão e a retomada amanhã, se for o caso”, disse Salles, em tom de lamúria. Diante do desfecho abrupto, Sâmia um grupo de defensores do movimento comemoraram entoando o coro “réulator, réulator, réulator”, enquanto Salles tentava abandonar o plenário nitidamente constrangido.