“As intimidações não cessaram após o assassinato do meu irmão”, diz deputada Sâmia Bomfim
O Globo: Parlamentar afirma acreditar que traficantes mataram médico por engano no Rio, mas diz que alguns se aproveitam da tragédia familiar para lhe fazer ameaças
19 out 2023, 15:52 Tempo de leitura: 3 minutos, 43 segundosDuas semanas após o assassinato do irmão, o médico Diego Bomfim, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) afirma ter sido alvo de ameaças e que, por isso, pediu à Câmara para reforçar sua segurança por meio de escolta da Polícia Federal.
“É aterrorizante receber este tipo de e-mail”, afirmou ela em entrevista ao GLOBO.
A deputada, contudo, diz acreditar nas investigações que apontam que seu irmão pode ter sido morto por engano, enquanto bebia com amigos em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, hoje a principal hipótese para o crime. De acordo com as polícias Civil e Federal, que atuam em conjunto no caso, um dos médicos que estavam com Diego pode ter sido confundido, por um grupo rival, com um integrante de uma quadrilha que atua naquela região.
Leia a entrevista completa.
Qual a avaliação que faz das investigações sobre o assassinato de seu irmão?
Quando soube do crime, imaginei imediatamente uma represália contra mim. Hoje, a investigação aponta para morte por engano e não duvido das investigações realizadas até aqui. Mas eu sempre recebi muitas ameaças e não consigo me distanciar desse tipo de pensamento involuntário, já que essas intimidações não cessaram após o assassinato do meu irmão.
Houve novas ameaças após a morte dele?
Recebi novas mensagens e e-mails, já encaminhados à Polícia Federal. Alguns grupos reivindicam a autoria do crime, dizem que são os autores da execução. Outros se aproveitam do ocorrido e ameaçam, dizem que serei a próxima vítima, caso não repense a minha atuação política. Tem quem se aproveite desse momento para ameaçar a vida do meu filho, uma criança, e do meu marido. É aterrorizante receber este tipo de e-mail. Desesperador.
Como essas ameaças têm interferido no seu dia a dia?
Passei a andar com escolta, igual ao (ex-deputado federal) Marcelo Freixo, graças a uma autorização que recebi da Mesa Diretora da Câmara. É nesse momento que percebemos o quanto somos vulneráveis. Neste contexto, como me distancio do medo? Fui obrigada a pedir à Polícia Federal o reforço da minha segurança. Ando triste pelo meu irmão, pelo Brasil. Como parlamentar, acabamos lidando com segurança pública, mas me ver no meio disso tudo é ruim demais, um desalento.
A senhora teve acesso a detalhes das investigações?
Até o momento só temos as informações da imprensa e as que vieram a público por meio de pronunciamentos oficiais.
Acredita que, com a hipótese de crime político descartada, a PF precisa continuar a acompanhar o caso?
Precisamos ter a PF junto dessa investigação. A Polícia Federal atua, legalmente, pela hipótese de haver algo neste crime pelo fato de eu ser irmã da vítima e sempre se colocou à disposição. Nos preocupa muito a notícia de que três dos envolvidos podem ter sido executados. Isso dificulta muito o entendimento da totalidade das coisas.
Teme que o crime possa ficar sem solução?
Sim, temo muito pela falta de um desfecho. Conhecemos a segurança do Brasil e do Rio de Janeiro. E não se trata apenas de saber quem apertou o gatilho ou mandou apertar, mas há uma estrutura por trás. Isso foi consequência de algo maior. Considerando essa linha, tenho medo sim de não irmos tão a fundo. Mas, é claro que novas hipóteses ainda podem surgir e isto também amedronta muito a minha família.
Como tem sido para sua família conviver com a hipótese de morte por engano?
É muito difícil lidar com o luto. Ainda mais quando falamos de um jovem de 35 anos que sonhava salvar vítimas através da medicina. Não é fácil digerir uma morte por engano.
Quando foi a última vez que a senhora havia falado com o seu irmão?
Falei no dia anterior ao assassinato, no grupo da nossa família. Ele estava tranquilo, falando sobre o adiamento do voo, estava esperando aquele congresso há mais de um ano. No dia seguinte, às 6h, abri os sites e li a notícia. Nenhum hospital me ligou, qualquer autoridade policial fez contato. Foi uma experiência especialmente dolorosa.