Deputadas do PSOL querem anular mudança de nome de assentamento do MST feita por governo Tarcísio
Projeto na Alesp propõe anular portaria que mudou nome do assentamento Che Guevara para Irmã Dulce sem consulta prévia
2 abr 2024, 15:24 Tempo de leitura: 2 minutos, 34 segundosTexto original publicado pelo portal Brasil de Fato
A deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP) protocolou, nesta quarta-feira (27), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para suspender a decisão do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) de mudar o nome de um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A iniciativa para sustar a ação do governo paulista conta com o apoio da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Por portaria, na última terça (26), a gestão Tarcísio decretou que a comunidade, batizada de Che Guevara desde 1991, passaria a se chamar Irmã Dulce. Os moradores do assentamento, localizado na cidade de Mirante do Paranapanema (SP), foram pegos de surpresa. Em nota, o MST classificou a alteração de “antidemocrática”.
A substituição do nome foi possível porque a regularização fundiária da área é feita pela Fundação Instituto do Estado de São Paulo (Itesp), órgão do governo estadual.
“Por mais que o ato em si esteja nas competências do Poder Executivo”, diz o documento da parlamentar do PSOL, “seus atos não podem extrapolar o ordenamento jurídico”. Ao alterar o nome de modo unilateral, “sem qualquer procedimento democrático de oitiva e diálogo com a população”, argumenta, o governo estaria ferindo princípios constitucionais e internacionais, como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.
O projeto fica cinco dias na pauta para possíveis emendas de outros deputados e depois é distribuído para comissões. Em seguida, vai a plenário. Para ser aprovado, o PDL precisa de maioria simples. Isso significa que dos 94 deputados da Alesp, um quórum com 48 é suficiente para que haja a votação. Entre os votantes, a aprovação depende de 50% mais um de posições favoráveis.
“Foi um gesto autoritário do governador Tarcísio, mais uma vez, de ataque ao direito de auto-organização do Movimento Sem Terra. A homenagem ao Che Guevara foi feita por escolha dos assentados, porque representa a luta e os ideais dos sem-terra”, afirma Sâmia Bomfim.
Para Seixas, a ação do governo Tarcísio é “arquitetada” e pretende “descaracterizar o histórico de luta pela terra no Pontal do Paranapanema”. “A população está indignada e nós também”, diz.
Assinada pelo diretor-executivo do Itesp, Lucas Bressanin, a portaria do governo estadual defendeu a substituição do nome do guerrilheiro da revolução cubana pelo da freira brasileira dizendo que Irmã Dulce “dedicou sua vida a obras de caridade”.
Para as parlamentares do PSOL, por mais que Irmã Dulce seja “uma figura extremamente importante no combate à desigualdade”, qualquer determinação que “caracteriza o assentamento sem sua autodeterminação, fere sua autonomia política e organizativa”.
“Não é um gesto arbitrário e autoritário que pode passar por cima de uma luta histórica e de um significado que é compartilhado”, diz Bomfim: “O assentamento Che Guevara é um dos mais consolidados, antigos e modelo do MST no Pontal do Paranapanema e merece respeito”.