80 tiros: não há engano, há necropolítica
Ao efetuar 80 disparos contra o carro de uma família negra, o Exército deixa claro a cultura de extermínio do Estado.
9 abr 2019, 23:56 Tempo de leitura: 1 minuto, 20 segundosAconteceu de novo. Mais um homem negro foi vítima do Estado. No último domingo, o músico e segurança Evaldo dos Santos Rosa foi assassinado pelo Exército após ter seu carro alvejado por 80 tiros, disparados por militares que atuavam na Estrada do Camboatá, no bairro de Guadalupe, no Rio de Janeiro.
Evaldo era um homem negro e estava levando sua família para um chá de bebê de uma amiga. Após ser baleado, ele ainda conseguiu virar o carro para proteger seu filho de 7 anos de idade, sua esposa e seu sogro. Os militares não prestaram socorro.
O delegado que assumiu a investigação afirmou que os militares, muito provavelmente, fuzilaram o carro por engano. Quem dispara 80 tiros por engano?
O assassinato de Evaldo trouxe à tona a discussão sobre a aprovação da lei, no governo Temer, que concede às Forças Armadas o direito de julgarem casos de crimes dolosos cometidos por oficiais. É claro que devemos discutir o foro privilegiado dos militares e exigir que tais crimes não fiquem impunes.
No entanto é mais urgente entender, de uma vez por todas, que fuzilamentos como esse não têm nada de engano, muito pelo contrário. A população negra deste País vem sendo exterminada historicamente.
Ao disparar tiros contra as pessoas negras, o Estado brasileiro mostra sua face assassina, ancorada num regime racista, que determina quais grupos merecem viver e quais devem morrer. É preciso se opor a essa lógica de extermínio da população negra. Não dá mais para tantas vidas serem interrompidas dessa forma.