Podcast “20 minutos com Sâmia” discute a fome e a insegurança alimentar no Brasil
O episódio desta semana também destacou temas como Renda Básica Permanente e o Auxílio Emergencial de R$ 600
14 abr 2021, 14:24 Tempo de leitura: 6 minutos, 10 segundosA deputada Sâmia Bomfim está de volta com o “20 minutos com Sâmia”, um podcast que trata de diversos assuntos atuais e relevantes para a sociedade. Ontem foi divulgado o 2º programa de 2021, 9ª edição do programa lançado no ano passado. Na edição divulgada nesta terça-feira (14), o assunto em destaque foi o retorno da fome no Brasil.
Três mulheres foram entrevistadas por Sâmia para falar sobre a temática: Camila de Caso, mestranda em Economia pela Unicamp e assessora da bancada do PSOL na Câmara; Letícia Benevides, mulher negra, ativista pela luta dos direitos da primeira infância e doula; Paola Carvalho, diretora de assuntos institucionais da sociedade brasileira de renda básica.
A deputada federal do PSOL/SP abriu o programa falando sobre a recente pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), que apresentou um dado alarmante. Segundo a Penssan, quase metade da população brasileira vive algum tipo de insegurança alimentar, ou seja, está passando fome. É a primeira vez, em 17 anos, que 116,8 milhões de pessoas passam por essa situação.
Sâmia faz um alerta aos ouvintes: “Existem muitos brasileiros morrendo em decorrência do novo coronavírus, mas tem uma outra pandemia que voltou a preocupar o Brasil: a pandemia da fome”.
Para ouvir o episódio completo acesse o Spotify no canal “20 minutos com Sâmia” ou Clique aqui
É na barriga das mulheres que a fome aperta mais
Letícia Benevides, que trabalha garantindo assistência direta a famílias e, em especial, a mães, mulheres e negras em São Paulo, fez um apontamento importante sobre a urgência no combate à fome. Ela disse que a realidade que os brasileiros vivem é de tragédia completa e destacou que a parcela da sociedade mais afetada por este cenário é de mulheres. “Quando falamos dessa população mais atingida pela fome, sabemos a cor e o gênero. São mulheres negras e mães que estão na fila da cesta básica, lutando pela sua sobrevivência e manutenção das suas famílias.”
Auxílio Emergencial e Renda Básica Permanente
Ao perguntar para Paola de Carvalho sobre a importância do auxílio emergencial Sâmia lembrou o papel que os partidos de oposição ao governo federal, juntamente com os movimentos sociais, tiveram na conquista do Auxílio Emergencial, um programa essencial para os brasileiros. “Precisamos lembrar que Bolsonaro queria oferecer um valor de R$ 200 de auxílio por pessoa. Foi uma batalha grande para conseguirmos o pagamento de R$ 600 por pessoa e a dupla entrega para as mães, chefes de família, uma proposta da Bancada do PSOL”.
Sâmia explicou que no ano de 2021, o valor do auxílio regrediu e foi submetido a lógica perversa de um valor limite estabelecido na PEC Emergencial.
Além de falar sobre a importância do Auxílio Emergencial, Paola falou sobre os riscos da redução no valor pago aos brasileiros. “Nós podemos afirmar, com todas as letras, que as mortes por fome em 2021 poderiam ter sido evitadas com vacina e renda digna”, disse.
Ela lembrou que quando se fala em renda digna, estamos garantindo às pessoas que elas não tenham que ir para rua fazer um trabalho informal ou ir para a porta dos supermercados pedir um quilo de arroz para alimentar suas famílias. “A maior parte das pessoas, receberá apenas 150 reais, ou seja, 5 reais por dia para uma família se alimentar com três refeições por dia”, concluiu.
A deputada Sâmia Bomfim lamentou pelo caos vivido no Brasil e disse que é inimaginável que alguém sobreviva nessas condições, principalmente vivendo numa situação de hiperinflação dos alimentos.
Ao passar a bola para economista Camila de Caso, a parlamentar do PSOL questionou se é verídico o argumento do governo federal de que não existe possibilidade de aumentar o valor do Auxílio Emergencial e quais são as alternativas que a esquerda pode propor para garantir um avanço no atual programa.
A pesquisadora da Unicamp garantiu que é um mito dizer que o orçamento doméstico é igual ao orçamento público. “O governo criou uma falsa dicotomia entre salvar vidas ou salvar a economia e este é mais um mito, porque vimos um impacto direto no PIB, com o pagamento do auxílio emergencial”. E afirmou que a pandemia mostrou aos neoliberais a necessidade, neste contexto de crise econômica e social, criar um programa de transferência de renda. “O período que o Brasil teve melhor composição do PIB, com o consumo das famílias, foi durante o pagamento do auxílio emergencial com o maior valor”, destacou a Camila.
Sobre as propostas da esquerda para desenvolvimento do princípio de igualdade e justiça entre as pessoas, Camila disse que o Congresso precisa de uma reforma tributária para criação de políticas de transferência indireta de renda. “Quando você faz uma reforma tributária, melhoramos a capacidade de arrecadação do Estado e reduzimos os encargos/impostos no bolso de toda a população”, ressalta.
Sâmia lembrou que a Reforma Tributária é importante para que o Brasil taxe os super-ricos, que concentram renda e vivem de especulação como forma de transferência indireta de renda e perguntou para Paola sobre a relevância da criação de uma renda permanente. A diretora de assuntos institucionais da Sociedade brasileira de renda básica, disse essa política pública passa por olhar o Brasil como o 7º país mais desigual do mundo, dados anteriores à pandemia.
“É urgente levar para a sociedade a discussão sobre quão inaceitável que o Brasil tenha uma lista com 20 bilionários no contexto de fome e miséria no país. “A esses bilionários é permitido distanciamento social, cuidado e zelo com suas famílias e os mais pobres são empurrados para uma situação de morte, pelo coronavírus ou pela fome”, lamentou Paola Carvalho.
Projetos em destaque
Ao final do episódio do “20 minutos com Sâmia”, a economista Camila De Caso ainda falou sobre a proposta do MTST com o programa “Cozinha Solidária”, um projeto de 16 cozinhas em 11 estados do Brasil. “Já temos a garantia de construção das 16 cozinhas, mas agora precisamos da manutenção, com segurança alimentar e nutricional”. Para apoiar clique aqui.
Letícia Benevides deixou o contato da organização “Mães na Quarentena”. Um grupo de mulheres que apoiam mulheres periféricas em extrema vulnerabilidade devido ao agravamento da pandemia de coronavírus neste ano de 2021. O coletivo atua na cidade de Campinas, em comunidades diversas que se encontram nas periferias da cidade. Com o valor arrecadado na campanha as mulheres ajudam mães com fraldas, leite, botijões de gás e cesta básica. Para apoiar clique aqui
Paola Carvalho pediu para que as pessoas colaborem com a “Campanha de Solidariedade Ativa da Rede Emancipa“, que realiza diversas doações nas periferias de São Paulo durante a pandemia da Covid-19. Lançada no dia 19 de março, essa é a ação construída por professores, estudantes e ativistas de um movimento social há 13 anos presente no cotidiano das quebradas, favelas e comunidades brasileiras. Para apoiar clique aqui