Sâmia vai à organização pioneira em SP na luta pelo uso medicinal da maconha
Visita ocorreu logo após sanção de Tarcísio ao PL que garante a distribuição de canabidiol no SUS: “Que seja importante para associações e pacientes, não para a indústria farmacêutica”.
16 mar 2023, 23:24 Tempo de leitura: 2 minutos, 43 segundosVocê sabia que cerca de 160 mil pessoas no Brasil já têm autorização da Justiça para o uso medicinal da maconha? Essa conquista se deu, em grande parte, ao trabalho de organizações sociais como a Cultive – Associação de Cannabis e Saúde, que a deputada Sâmia Bomfim (PSOL) visitou recentemente. A presidenta da entidade, Cidinha Carvalho, se tornou referência no ativismo a favor da legalização ao lutar pela vida de sua filha, que tem uma rara síndrome genética.
“Cidinha é uma das principais lideranças para que a população tenha o direito de fazer uso da cannabis medicinal. Foi a partir da história de sua própria família que hoje ela beneficia outras centenas com a associação. Além disso, é uma militante da descriminalização da maconha de maneira geral, muito consciente do papel que a guerra às drogas tem no hiperencarceramento e assassinato, em especial, de jovens negros das periferias brasileiras”, comenta Sâmia.
Cidinha e Fábio Carvalho são pais de Clárian, uma jovem diagnosticada com a Síndrome de Dravet, forma severa de epilepsia muito resistente ao tratamento e com alto risco de morte súbita. Trata-se de uma condição genética progressiva, incapacitante e caracterizada por crises que podem durar por horas, afetando o desenvolvimento psicomotor e cognitivo. A ativista conta que quase perdeu sua filha inúmeras vezes.
Em 2013, pesquisando na internet, Cidinha soube do caso de Charlote Figi, garota norte-americana com a mesma síndrome que obteve avanços significativos no tratamento quando passou a fazer uso do óleo de maconha. Desde então, além da importação e todos os trâmites legais, ela vem se dedicando a pesquisar formas de plantio e extração artesanal do produto responsável pela redução de 80% das crises e melhora no quadro cognitivo de Clárian logo nos primeiros quatro meses de consumo.
A visita de Sâmia à Cultive, na Zona Leste de São Paulo, coincidiu com a sanção do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Projeto de Lei Estadual 1180/2019, que institui uma política para a distribuição de medicamentos derivados de canabidiol no SUS. “Porém, a gente tem muita preocupação sobre como essa lei vai ser regulamentada”, diz a deputada. “Queremos que ela, de fato, abarque as associações e que seja importante para os pacientes, não mais um nicho mercadológico da indústria farmacêutica”.
O trabalho desempenhado por Cidinha à frente da Cultive fez dela a representante da sociedade civil no grupo de trabalho criado pelo governo para a implementação da nova política: “É preciso também pensar nos pais e nos cuidadores dos pacientes que sofrem com diversas condições e podem se beneficiar da cannabis”. A princípio, a lei tem o objetivo de fornecer os remédios somente às pessoas com de síndromes raras – como a Dravet, que acomete Clárian -, mas a luta dessa mãe é para que mais famílias tenham acesso, ampliando o rol de especialidades médicas aptas para receitarem a substância.