Meia década é tempo demais: sessão solene na Câmara marca 5 anos da morte de Marielle e Anderson
Para Sâmia, enquanto o crime seguir sem solução, a violência política de gênero será naturalizada: “uma lógica de que é possível ceifar a vida de uma mulher enquanto ela exerce um mandato”.
17 mar 2023, 22:34 Tempo de leitura: 2 minutos, 49 segundosCom informações da Agência Brasil
A vereadora do PSOL Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018, foi homenageada na última quarta (15) em sessão solene na Câmara dos Deputados. No mês que marca os cinco anos do crime, no qual também foi morto o motorista Anderson Gomes, o mandante ainda não foi descoberto.
Com o plenário repleto de girassóis, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, emocionou-se ao falar de Marielle, sua irmã. “Ainda é difícil para mim falar dela no tempo passado, mas ela continua sendo para mim força, pluralidade e afeto. E ela sempre fez política da melhor maneira possível, sempre me inspira e vai ser minha líder para sempre. Enquanto a gente tiver forças e sangue, vai lutar para manter a memória e o legado dela”, afirmou a ministra.
Anielle também criticou o fato de o mandante do crime continuar impune. “Enquanto não se responder quem mandou matar Marielle, a gente segue com essa democracia fragilizada. E eu espero realmente não ter que ficar mais cinco anos para esperar alguma resposta”.
Também presente à sessão, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Sílvio Almeida, relacionou a elucidação do crime à democracia. “Não existe a possibilidade de o Brasil superar a desigualdade, o autoritarismo, avançar como uma sociedade verdadeira e democrática e superar o racismo, se não nos comprometermos, enquanto sociedade, com a elucidação do assassinato de Marielle Franco”, afirmou
A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) destacou a importância da presença dos ministros na cerimônia como um gesto fundamental de compromisso por parte do atual governo para a solução desse crime bárbaro, “que marcou e feriu a democracia no nosso país”. “Infelizmente, nos últimos quatro anos, o que nós vimos foi não apenas a falta de empenho das autoridades, mas também a conivência com a prática de crimes, grupos organizados e milícias que se estruturaram nas instituições brasileiras e acabaram ganhando ainda mais força”.
A parlamentar lembrou que o discurso do ex-presidente Bolsonaro e sua base apoiadora promoveu a difamação e o estímulo à violência política de gênero: “mas, nós seguimos na nossa luta por justiça”. Para ela, um crime com tamanha gravidade seguir sem resolução resulta na naturalização do fato, “uma lógica de que é possível ceifar a vida de uma mulher enquanto ela exerce um mandato político”.
“Lutar por Justiça para Marielle é em respeito a todos os seus familiares, mas também num presente que possibilite a nossa atuação política por igualdade e compromisso com a transformação da sociedade, tudo aquilo que é o legado dela. E para que a gente possa, de fato, ter liberdade democrática e condições de seguir atuando na política sem nenhum tipo de medo e violência”, finalizou a deputada.
Ao fim da sessão solene, ocorreu a abertura da exposição “Marielle Franco – Nesse Lugar”, que traz imagens de acervo, relatos e artes para mostrar a potência da vereadora e celebrar sua trajetória. A mostra fica no Anexo 2 da Câmara até o 23 de março, depois viaja para as casas legislativas de outros estados do Brasil.