Galpão em SP fica lotado para defender o MST e as deputadas feministas ameaçadas de cassação
Convocado por Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em conjunto com o movimento sem terra, atividade fortaleceu também a luta contra a aprovação do Marco Temporal das terras indígenas.
11 jul 2023, 20:30 Tempo de leitura: 4 minutos, 15 segundosEm São Paulo, cerca de mil pessoas compareceram neste sábado (8) ao ato “Lutar não é crime”, convocado pela deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A mobilização foi uma resposta à ofensiva bolsonarista e do Centrão que tenta, no Conselho de Ética da Câmara, intimidar seis mulheres parlamentares que protestaram contra o Marco Temporal das terras indígenas e, por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), criminalizar a luta pela reforma agrária. Entre os apoiadores, estava o padre Júlio Lancelotti: “Saibam que nós as amamos e as protegeremos!”.
A mobilização deixou lotado o galpão em frente à loja Armazém do Campo, no centro da capital paulista. Além de Sâmia, marcaram presença Célia Xakriabá (PSOL-MG), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP), deputadas que enfrentam o mesmo pedido de cassação movido pelo PL, partido de Bolsonaro.
“Foram quatro horas entre o protocolo até a abertura do nosso processo pelo presidente do Conselho de Ética, enquanto as denúncias contra os parlamentares que comprovadamente participaram dos atos golpistas estão engavetadas na Mesa Diretora, nem sequer foram lidas, assim como as daquele transfóbico de Minas Gerais que não merece ter o nome mencionado”, disse Sâmia, que completou:
“Agora, mulheres que estão ali na luta e se manifestaram contra a absurda aprovação do Marco Temporal, em tempo recorde, veem avançar seus processos covardes de cassação, seis ao mesmo tempo! Esses sujeitos nem sequer disfarçam o ódio e a misoginia contra nossos mandatos combativos. E isso acontece simultaneamente à instalação de uma escandalosa CPI que tenta criminalizar o maior movimento social do país, o MST. São os mesmos agentes que estão por trás dessas ações: os representantes da extrema-direita, do agro golpista e aqueles que encheram os bolsos de dinheiro enquanto os brasileiros lutavam contra a fome e contra o vírus que era usado pelo ex-presidente como uma arma para atacar nosso próprio povo”.
Antes da deputada, padre Lancelotti abriu as falas das autoridades registrando solidariedade “às parlamentares, à luta das mulheres e a todas as lutas libertárias, dos sem terras, dos indígenas, dos afrodescendentes, dos LGBTQIA+, da população em situação de rua e de todos os grupos minoritários que, na verdade, são a maioria”. “Quero dizer a todos que compõem a Câmara Federal que atingir a essas parlamentares tem um nome: covardia”, enfatizou o líder religioso. “Essa tentativa de cassação vai engrandecê-las, os covardes não passarão!”.
A dirigente nacional do setor de gênero do MST, Lucineia Freitas, afirmou que a CPI que investiga o movimento, o pedido de cassação das deputadas e a aprovação do Marco Temporal não são processos isolados, mas daqueles que perderam a eleição e querem, “na força do grito”, calar e aprisionar os corpos das mulheres no Parlamento. “Quem tem algo a explicar neste país não é o MST, mas o agronegócio que desmata, envenena e violenta os povos do campo, seja os sem terra, seja os indígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantas outras populações que sobrevivem dos frutos da terra e que produzem o alimento saudável que chega na mesa dos brasileiros”.
Aradju Guarani, liderança da Terra Indígena Jaraguá, denunciou a repressão policial que a comunidade originária da Zona Norte de São Paulo sofreu a mando do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), enquanto protestava pela rejeição do PL 490/2007, no fim de maio. “Esse é o projeto da morte, que não fere apenas uma comunidade, mas todos os povos indígenas. Se nós sofremos essa violência quando ele estava em votação, imaginem se for aprovado. Esse PL dá direito à exploração das terras demarcadas, então, é a nossa mãe natureza que ficará exposta”.
O ato público ainda contou com as presenças dos deputados estaduais Monica Seixas (PSOL), e Eduardo Suplicy (PT), da vereadora Luana Alves (PSOL) e outros parlamentares do PT e do PSOL, do jornalista José Trajano, da atriz ngela Dippe, do influenciador Thiago Torres (conhecido como Chavoso da USP) e representantes de diversos movimentos sociais. Antes da atividade, o MST serviu cerca de 200 refeições preparadas com alimentos orgânicos produzidos em assentamentos. O coletivo de percussão Baque Delas, de Jundiaí, animou a abertura com o seu maracatu feito só por mulheres.
O grupo de deputadas e o movimento sem terra anunciou que serão realizados, em breve, novos atos como esse em outros estados do Brasil. Também há uma articulação para que a Marcha das Margaridas – maior manifestação de mulheres trabalhadoras do campo e da floresta do país, marcada para 15 e 16 de agosto, em Brasília – incorpore em sua agenda de lutas as pautas apresentadas na plenária.