Fogo na cinemateca é responsabilidade de Bolsonaro e Mário Frias
Incêndio na instituição responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira é tragédia anunciada
30 jul 2021, 11:33 Tempo de leitura: 5 minutos, 30 segundosPor volta das 18 horas de quinta-feira (29), o Brasil viu diante dos seus olhos um dos prédios da Cinemateca Nacional pegando fogo. As chamas eram altas e a tristeza de quem via as imagens era certeira. Preocupadas, pessoas das mais diversas áreas começaram a pedir explicação do governo federal sobre o incêndio. Ali, milhares de acervos cinematográficos estavam virando cinzas e uma parte importante da história do Brasil transformou-se em fumaça.
Assim que soube da tragédia, a deputada Sâmia Bomfim, foi às redes sociais para se manifestar. “O maior acervo de filmes da América Latina estava abandonado devido à negligência proposital do governo Jair Bolsonaro”, disse a parlamentar que é membro da Comissão de Cultura da Câmara Federal e em abril havia participado de uma Audiência Pública para debater a Situação da Cinemateca Brasileira
A parlamentar escreveu um artigo sobre “O desmonte do setor audiovisual brasileiro e o risco Bolsonaro”, com bastante destaque para a situação da cinemateca.
Também no mês de abril, trabalhadores da Cinemateca Brasileira, cineastas e outros gestores públicos denunciam descaso do governo Bolsonaro com a instituição e alertaram para o risco real de incêndio. Acervo contempla mais de 100 anos de história brasileira em audiovisual.
Em audiência no dia 20 de julho, o MPF alertou governo federal para risco de incêndio na Cinemateca.
Na mesma noite da tragédia, o mandato da deputada Sâmia Bomfim promoveu um debate com o tema: Incêndio na Cinemateca Brasileira – tragédia anunciada ou projeto de destruição?
Inti Queiroz, produtora cultural, ativista e assessora do mandato de Sâmia e Cintia Bittar, cineasta e membro da Associação de Produtoras Independentes de Audiovisual falaram sobre a importância desse aparelho cultural e seu completo desmonte operado pelo governo de Bolsonaro.
A produtora cultural fez um histórico das lutas travadas pelos trabalhadores da cultura em defesa da cinemateca e apresentou falas dos participantes das audiências realizadas pela Comissão de Cultura da Câmara Federal. Na ocasião, a deputada Sâmia Bomfim mostrou preocupação com o descaso do governo junto à cinemateca. “Lamento a posição do governo Bolsonaro diante de um patrimônio cultural incalculável (a 5ª maior cinemateca do mundo)”, destacou. E disparou: “É inimaginável que um governo tenha esse tipo de tratamento com um patrimônio tão importante para cultura brasileira. Mas, infelizmente, isso é característico de governos fascistas e autoritários”. Inti convocou os trabalhadores da cultura a botarem o bloco na rua contra o desmonte do setor cultural: “Só vamos conseguir deste pesadelo se reagirmos juntos a tudo isso”.
Uma das áreas da cultura mais atacadas pelo governo é o audiovisual. Foram muitas situações de ataques diretos a mecanismos e órgãos ligados a este setor nos últimos anos.
“Há uma negação da história. E esse incêndio é mais uma censura com a cultura. O modus operandi do governo Bolsonaro é da arquitetura da destruição”, disse Inti Queiroz.
Cintia Bittar, cineasta e membro da Associação de Produtoras Independentes de Audiovisual estava bastante emocionada e relatou que todos os dias entidades do audiovisual brasileiro são atingidas frontalmente pelo plano de aniquilação da produção artística, cultural, da ciência e educação. “As pessoas, talvez, não tenham dimensão do que simboliza a cinemateca brasileira. Ali está a memória do nosso país”, cravou.
“Felizmente, a grandeza do cinema brasileiro e da arte deste país sobreviverá a pequenez de qualquer governo, inclusive deste. Teremos muita coisa para reconstruir, mas não temos medo de trabalhar. Temos gana, pois amamos tudo o que construímos e sabemos tudo que construímos. Não deixaremos tudo se acabar em cinzas”, disse Cintar Bittar.
Em nota, a API (Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro) manifestou sua revolta com o incêndio. “São dezenas de milhares de documentos e filmes que compõem parte central da memória da cultura brasileira transformados em cinzas.”, destacaram.
“Nesse momento de comoção e revolta, é preciso responsabilizar a gestão Bolsonaro por essa tragédia incalculável. O desmonte da cultura nacional é um projeto político daqueles que trabalham pela destruição do Brasil. Que Bolsonaro e Mário Frias respondam por esse crime”, escreveu Sâmia Bomfim.
O incêndio foi contido, mas a destruição parece bastante grande, de acordo com as imagens que estão circulando.
Deputados vão acionar PGR contra governo Bolsonaro por omissão na Cinemateca
A deputada Sâmia Bomfim e outros parlamentares da oposição vão ingressar com uma notícia-crime na Procuradoria-Geral da República contra a Secretaria Especial da Cultura em face da atuação da pasta na manutenção da Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
(As Informações abaixo são do portal Rede Brasil Atual)
Função social
Logo no início de seu governo, o governo Bolsonaro rescindiu, unilateralmente, o contrato com a mantenedora da instituição, a Fundação Roquette Pinto. Os argumentos dos bolsonaristas foram recheados de chavões. Acusam a instituição e a classe artística a partir de argumentos difusos e extremistas. Falam sobre “marxismo”, “esquerdismo”, e outras coisas sem sentido diante da realidade.
Entre as funções da Cinemateca Brasileira está a preservação da identidade nacional, através de preservação e divulgação. “Para além da conservação de seu acervo físico, a Cinemateca Brasileira promove a pesquisa e a difusão do audiovisual no Brasil. A partir de transmissões online e do Banco de Conteúdos Culturais (BCC), parte do acervo estava disponível à sociedade. Com o processamento das obras do Depósito Legal e a prospecção e catalogação da produção audiovisual na base Filmografia Brasileira (FB) foi possível manter o mapeamento histórico de uma importante parcela do patrimônio audiovisual brasileiro contemporâneo da nossa atividade audiovisual.”
Histórico
O descaso e abandono da Cinemateca Brasileira foram alvos de ações do Ministério Público e de representações políticas, com finalidade de preservar o acervo. O ápice dos conflitos aconteceu no dia 7 de agosto passado, quando o governo Bolsonaro enviou a Polícia Federal ao local para tomar as chaves da instituição. A intervenção armada de Bolsonaro colocou mais de 120 anos de história em xeque, já que mesmo os trabalhadores técnicos foram impedidos de entrar no local.