Mulheres
Precisamos superar o sentimento de alívio que a derrota de Bolsonaro gerou e retomar nosso senso de urgência por uma vida melhor e mais digna, por mais segurança, educação, saúde de qualidade e tantas outras coisas que não têm sido pautadas com a prioridade que deveriam diante do estrago deixado pelo governo anterior. Lula se elegeu com um programa de defesa dos direitos, mas o que temos visto é um movimento no sentido contrário: tem ficado cada vez mais explícito que o governo Lula tem apostado seu capital político na conciliação de classes com a burguesia. Ao pactuar com Lira, que teve apoio do governo para a sua eleição à presidência da casa e foi quem bancou a aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, e ceder ministérios para o centrão, como vimos na nomeação de Celso Sabino (União Brasil-PA) para o Ministério do Turismo, o governo vai deixando de lado os interesses da classe trabalhadora. As reformas econômicas defendidas por Haddad, e aprovadas, foram vendidas à população como avanços estratégicos mas, na prática, favorecem os bancos, o agro, a mineração, as igrejas, e tantos outros setores que já são beneficiados, seja com imunidade fiscal/taxações diferenciadas, seja priorizando o pagamento da dívida pública ao invés de investimentos em áreas sociais. Os servidores públicos, por exemplo, sentirão o impacto do arcabouço fiscal já que seus cargos e salários estarão à mercê da arrecadação do estado, e é evidente que para as mulheres servidoras o impacto será ainda maior. O novo plano econômico agrada o capital financeiro ao mesmo tempo que coloca em standby as necessidades reais da população brasileira!
Todas essas questões evidenciam a contradição do atual governo ao se distanciar das pautas de esquerda que defendeu durante sua campanha. Um exemplo disso é o alarmante crescimento no número de estupros no Brasil (Anuário do Fórum de Segurança Pública) e que, de fato, condiz com o que vemos diariamente nos noticiários. A violência sexual e de gênero é uma das pautas mais caras para o movimento feminista e, com a politica economica apresentada pelo governo Lula, torna -se impossível criar políticas públicas que combatam a violência sexual no país. Ou até mesmo a reforma tributária, que eles se vangloriam por baixar os juros da cesta básica como se isso fosse resolver uma das questões urgentes do país que é a fome – cerca de 10,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil de acordo com a ONU. Nós sabemos que a fome do país só será resolvida com a reforma agrária.
As reformas que têm sido aprovadas vão atingir direta e negativamente a vida da população mais pobre do país, sobretudo das mulheres. Nós precisamos de um governo de esquerda que combata o neoliberalismo ao invés de ser um agente ativo na conciliação, ou corremos o risco de abrir um novo caminho para a extrema-direita. Para que isso não aconteça, precisamos de ação. Sem mobilização nas ruas, seguiremos reféns de uma política que não suprirá nossas demandas básicas de bem-estar.