- Previdência
Derrotar nas ruas a reforma da previdência de Doria!
O governador João Doria busca aprovar a toque de caixa uma Reforma da Previdência do funcionalismo público de São Paulo. É preciso agir rápido para impedir esse absurdo.
A reforma da previdência nacional aprovada este ano é um dos ataques mais severos aos direitos e à economia do Brasil das últimas décadas. Em dez anos, os trabalhadores perderão cerca de R$800 bilhões em benefícios. Esta tragédia teve como um de seus mais entusiasmados articuladores o governador de São Paulo, João Doria. No ano passado, enquanto ainda era prefeito da capital, Doria propôs uma reforma da Previdência municipal, o Sampaprev. Num primeiro momento, foi derrotado pela mobilização dos servidores. Porém, no fim do ano, seu sucessor, Bruno Covas, conseguiu fazer aprovar o projeto. Agora, como governador, Doria propõe uma reforma da Previdência dos servidores do estado de São Paulo semelhante à reforma da Previdência aprovada em âmbito nacional. Ou seja, Doria, um bilionário que ingressou na política primeiramente como lobista, tornou-se um especialista em destruir a aposentadoria dos trabalhadores.
Sem disfarçar o caráter autoritário e antipopular da medida, o governo estadual apressa a Assembleia Legislativa para que aprove o projeto em velocidade recorde – se possível em 15 dias. Dessa forma, o governo impede que os parlamentares possam estudar e debater seriamente o tema, que especialistas da sociedade civil possam avaliar os impactos das medidas e que a população conheça e reflita a respeito do tema. Isto é proposital, pois, Doria sabe que seu projeto é tão perverso no desmonte dos direitos do trabalhador e tão frágil em embasamento econômico que provavelmente desencadeará forte resistência – da qual ele quer fugir acelerando a tramitação.
Vejamos, então, quais são as alterações propostas:
- Aumento da alíquota de contribuição dos servidores estaduais, dos atuais 11% do salário, para 14%. Na prática, isso significa redução dos salários. Trata-se, portanto, de uma manobra para subverter o princípio constitucional da majoração salarial, que prevê que o salário do funcionalismo público deve apenas aumentar e nunca diminuir. Este princípio já é comumente desrespeitado em São Paulo por meio de arrocho salarial (quando não há reajuste salarial de acordo com a inflação, acarretando diminuição do seu valor real). Algumas categorias estão há mais de 5 anos sem receber reajuste. Como consequência, São Paulo, de longe o estado mais rico da federação, é um dos que mais paga mal os seus servidores.
- Eliminação dos acréscimos salariais por tempo de serviço (tais como quinquênios, sexta parte, etc.) de todos os servidores pertencentes ao grupo dos “subsidiados”. Além disso, Doria pretende incluir os professores, a maior categoria profissional dentre o funcionalismo público estadual, neste grupo. Ou seja, isso significa acabar com os acréscimos de salário a que os professores têm direito ao longo de sua carreira, desvalorizando ainda mais o magistério.
- Aumento da idade mínima necessária para poder se aposentar: de 55 para 62 anos, no caso das mulheres, e de 60 para 65, no caso dos homens. Nota-se, dessa forma, que as mais prejudicadas serão as mulheres, reforçando a desigualdade que já existe na sociedade ao invés de buscar dirimi-la. Os professores terão direito a se aposentar mais cedo, mas a idade mínima também subirá no caso deles. Será de 57 anos, para mulheres, e 60 anos, para homens.
- Redução do valor dos benefícios. Em primeiro lugar, o valor da aposentadoria do servidor não será mais igual ao salário da última função ocupada por ele, mas igual à média de todos os salários recebidos ao longo do período em que contribuiu para a Previdência. Por si só, isso já significaria uma redução substancial no valor da aposentadoria. Mas, além disso, o servidor que se aposentar com o tempo de contribuição mínimo (25 anos) terá direito a apenas 60% do valor do benefício. Este percentual é aumentado progressivamente quanto maior for o tempo de contribuição, atingindo a integralidade do benefício apenas com 40 anos de contribuição. As pensões por morte também serão reduzidas a 60% do valor do benefício mais 10% por dependente.
- Aposentados por invalidez terão de passar por uma perícia periódica que avaliará suas condições de trabalho. Se for constatado que o trabalhador está apto a realizar determinada função no serviço público, mesmo que diferente daquela a qual o profissional realizava quando na ativa, ele perderá sua aposentadoria e será “readaptado” na nova função. Chamamos este processo de “desaposentadoria”.
- Atualmente, o servidor tem direito a gozar de sua aposentadoria em no máximo 90 dias após solicitá-la. A reforma propõe acabar com este prazo, de modo que o servidor só usufruiria de seu direito após autorização expressa do governo. Essa medida obrigará muitos servidores a judicializarem seus pedidos de aposentadoria para que possam usufruir de seu direito.
Não há justificativa plausível para este desmonte dos direitos dos funcionários públicos. Como o próprio governo admite, São Paulo não vive crise fiscal e é um dos estados brasileiros que menos gasta proporcionalmente com folha de pagamento, estando abaixo do limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, o aumento proporcional dos gastos do estado com pagamento das aposentadorias dos servidores se deve à redução no número de funcionários contratados. Entre 2010 e 2018, São Paulo perdeu 10,8% de seus funcionários públicos em função da falta de chamamento de concursos públicos e terceirizações. Com menos funcionários ativos, há menos contribuições, e, dessa forma, o governo tem de desembolsar uma quantia maior para manter os benefícios dos aposentados. Portanto, é totalmente implausível afirmar que os gastos com o Regime Próprio de Previdência do Estado de São Paulo são uma “bola de neve descontrolada” pois cabe ao estado, e apenas a ele, garantir o equilíbrio fiscal de sua própria Previdência. Em outras palavras, mesmo se fosse verdadeiro que há um problema fiscal com a Previdência de São Paulo, o responsável seria apenas o próprio governo.
Além disso, mudanças relativas ao funcionalismo público costumam aproveitar-se do preconceito corrente de que esta seria uma categoria de “privilegiados”. Entretanto, cumpre ressaltar, em primeiro lugar, que a maioria dos funcionários públicos, especialmente em âmbito estadual, é composta por trabalhadores nada privilegiados, como professores, policiais e profissionais da saúde. Em segundo lugar, a valorização desses profissionais não é contraditória com a garantia de qualidade dos serviços públicos. Isto é, gastar menos com servidores não significa “sobrar mais dinheiro” para investir nas áreas sociais, mas, ao contrário, a melhor forma de garantir serviços de qualidade é investir nos profissionais que os realizam.
O desafio de derrotar essa atrocidade é grande e o tempo é curto. Mas a mobilização está acontecendo. No dia 26 de novembro, os professores aprovaram a realização de paralisação em todos os dias em que ocorrerem a tramitação do projeto, que devem ser as terças feiras. É preciso agir rápido e energicamente para conscientizar a população e mobilizar os servidores. A reforma da Previdência estadual não pode passar!