Sâmia Bomfim

    A FIFA nos expulsou das arquibancadas da Copa do Mundo

    O país sede da Copa do Mundo acumula casos de perseguições à população LGBT

    *Artigo escrito por Isabel Fuchs Lauritoex-jogadora de futebol e estudante de Ciências Sociais na UNICAMP. Originalmente publicado na Revista Movimento em 07/06/2018

    Em 2013 a Rússia aprovou uma bizarra legislação anti LGBT, que proíbe “propaganda LGBT para menores”. Desde então se acirraram os ataques contra LGBTs no país, manifestações pró LGBT foram duramente reprimidas pela polícia e os reacionários sentiram-se cada vez mais confortáveis para atacar a população LGBT russa.

    A controversa legislação se justifica para os reacionários em base a um discurso muito parecido com aquele que os defensores do Escola Sem Partido utilizam, tentam disfarçar seus preconceitos com uma falsa pretensão de cuidado com crianças e adolescentes, quando suas ações na verdade reafirmam posturas machistas e lgbtfóbicas, contribuindo para a afirmação da ideologia dominante, heteronormativa e cisnormativa, que colocam os LGBTs a margem da sociedade, privados de diversos direitos básicos e sujeitos a diversos tipos de violência.

    Em 2016 o parlamento russo tentou aprovar uma legislação mais dura, que concedesse pena de prisão para os LGBTs. Embora essa nova legislação não tenha sido aprovada, a situação dos LGBTs no país segue dura e difícil. Manifestações públicas de afeto podem se enquadrar como propaganda gay, resultando em multas. A perseguição tem, desde 2013, um embasamento legal.

    É neste cenário que a Copa do Mundo irá acontecer. Em Rostov, um grupo paramilitar de cossacos, fiel à Putin, já anunciou que irá fiscalizar a propaganda homossexual durante os jogos. Isso significa que se casais LGBTs andarem de mãos dadas ou demonstrarem afeto, serão abordados e denunciados à polícia. Este grupo paramilitar é conhecido por sua abordagem extremamente violenta.

    Em 2013 a FIFA lançou um novo “guia de bom comportamento”, que versa sobre diversidade e combate à discriminação. No guia o combate à discriminação por orientação sexual é citado, a ideia é que o guia fosse um plano de ação, para que os membros associados apresentassem, até 2016, um plano de combate concreto.

    Não há qualquer indício de que o tal guia de bom comportamento tenha tido resultados efetivos. É preciso dizer que o futebol é hostil aos LGBTs e a FIFA, ao considerar razoável que a Rússia fosse país sede do mundial, reafirma essa hostilidade e mostra sua verdadeira face e a incapacidade de tomar medidas concretas contra a discriminação.

    A FIFA não cumpre com o mesmo peso a política de punições àqueles que infringem suas legislações. Puniu um time polonês, que realizou uma manifestação com um mosaico na arquibancada, em homenagem às vítimas do nazismo. A FIFA proíbe qualquer manifestação política nas arquibancadas e puniu o clube polonês de acordo com esse artigo. Porém, não pune com tanta dureza manifestações machistas, lgbtfóbicas e racistas, que são cotidianas nas arquibancadas.

    Existem, no entanto, dois problemas com a realização da Copa na Rússia. O primeiro já está exposto acima, a realização do maior evento do futebol em um país com legislação que fere o regimento de ética e conduta da própria entidade. Agora, a segunda questão é o silêncio da maioria das equipes e dos torcedores com o tema.

    Para exemplificar a questão é preciso voltar à 2014, período da realização das Olimpíadas de Inverno, em Sochi. Naquele período, a legislação anti lgbt já estava aprovada e diversos atletas, assim como a comunidade LGBT internacional, se levantaram para construir uma campanha contra a realização dos Jogos de Inverno no país. Embora os Jogos tenham acontecido, a existência de manifestações não passaram em branco e a comunidade internacional voltou os olhos para a contradição de um país com uma legislação anti lgbt abrigar um evento como os Jogos de Inverno.

    Ao silenciar em relação a Copa do Mundo na Rússia, o universo do futebol reafirma uma verdade, nós não somos bem vindos nos estádios, muito menos nos campos de futebol. A identidade masculina que se construiu no futebol fere as mulheres e os LGBTs, que não se enquadram nos tipos ideais de masculinidade, reforçados pelo futebol.

    O recado da FIFA é evidente, não nos importamos com os LGBTs. As sanções e boicotes são uma prática, contra países com legislações reacionárias, racistas, machistas ou lgbtfóbicas. O exemplo mais recente no futebol foi da seleção argentina, que deu uma lição, ao aderir ao boicote à Israel, se negando a realizar o amistoso, fortalecendo a luta do povo palestino.

    Aceitar que os jogos sejam realizados na Rússia, com os paramilitares fiscalizando “ações de propaganda homossexual” é um atentado aos LGBTs e uma legitimação por parte da comunidade internacional com o ataque aos direitos dos LGBTs russos.

    Conheça a deputada
    Sâmia Bomfim

    Sâmia Bomfim tem 30 anos, foi vereadora de São Paulo e, atualmente, é deputada federal pelo PSOL. Elegeu-se com 250 mil votos, sendo a mais votada do partido e a oitava mais votada de todo o estado de São Paulo. Seu mandato jovem, feminista e antifascista levanta bandeiras que a maioria dos políticos não tem coragem de levantar. Ela é linha de frente no enfrentamento do conservadorismo e na oposição aos desmandos do governo Bolsonaro, defendendo sempre a maioria do povo.

    Nossas bandeiras
    na Câmara Federal

    • Lutar pelo impeachment de Bolsonaro.
    • Lutar para ampliar e garantir os direitos das mulheres.
    • Defender as vidas, os empregos e os direitos das brasileiras e dos brasileiros diante da pandemia de Covid-19.

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