Sâmia Bomfim

  • joão doria

Doria desumaniza as pessoas ao transformar comida em ração

Por Joyce Godinho, formada em nutrição pela USP e militante do Movimento Esquerda Socialista.

Por Joyce Godinho, formada em nutrição pela USP e militante do Movimento Esquerda Socialista.

Infelizmente, pensando em 2018, Dória usa a fé das pessoas e o verniz da caridade para lançar um novo programa e se auto promover.

O programa "Alimento para todos" prevê a distribuição de um produto, chamado ALLIMENTO, para as pessoas em situação de pobreza do município de São Paulo. Tal consiste em um ultraprocessado feito a partir de TODO o tipo de alimento, até onde eu sei incluindo resto de alimentos parcialmente consumidos. Isso está sugestionado na publicação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente no início do ano (https://www.facebook.com/pg/svmasp/posts/?ref=page_internal).

A partir disso, percebe-se que há problemas no programa. O projeto de lei que tornou possível o "Alimento para todos" não leva em consideração a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, nem o Guia Alimentar para a População Brasileira confeccionado com o apoio da OPAS e referência no mundo todo.

Na verdade, esse programa vai na contramão do que preconiza os mais recentes trabalhos sobre alimentação saudável, que dê condições dos indivíduos se desenvolverem normalmente. Ao invés de promover uma alimentação variada em cores, sabores e texturas naturais, o acesso da população a alimentos frescos como frutas, legumes e verduras, o prefeito João Dória dispende dinheiro público para distribuir uma farinha "nutritiva" para quem está em situação de vulnerabilidade social e já sofre a retirada de todos os direitos diariamente. Além disso, não leva em conta as bases de dados oficiais para dimensionar a prevalência de desnutrição no município de São Paulo.

Como se pretende fazer um programa para atender a uma população específica, sem que haja um diagnóstico adequado sobre a realidade dessa população? Doria ignora que além da sua vaidade de menino mimado, existe a vida de pessoas, que dependem de um trabalho sério e engajado do Poder Público em conjunto com a sociedade.

Assim, entramos no que eu acho mais problemático no projeto: quem é a sociedade que está envolvida na sua formulação.

O projeto é uma parceria da Prefeitura com uma Plataforma de Ações Sustentáveis, a Sinergia, uma intermediária entre grandes corporações, institutos e afins que receberão isenção fiscal para doar seus excedentes pra produção do “Allimento”. Assim, essas empresas se livram do seu excedente, lucram sobre ele e ainda passam a mensagem artificial de que estão cumprindo com sua função social.

Também é bastante curioso o fato da idealizadora da Plataforma, Rosana Perrotti, acumular em seu currículo passagens pela Monsanto e Mead Johnson Nutrition, onde trabalha atualmente como Controller. Essas empresas não tem nenhum compromisso com a preservação do meio ambiente ou com a garantia de uma alimentação natural e de qualidade.

Além disso, há um grande e preocupante apoio a esse projeto de setores religiosos, em especial o católico, por isso falei no início do texto sobre o verniz da caridade. Historicamente a igreja realizou e se construiu pautada em ações de caridade, isso não seria um problema se a fé das pessoas não fosse muitas vezes usada para garantir mais concentração de poder aos que sempre estiveram por cima. Infelizmente é isso que acontece nesse programa

Quando se nega comida de verdade aos pobres, submetendo-os a um produto ultraprocessado, retira-se seus direitos enquanto cidadãos a uma alimentação saudável, muito além do que fornecer somente nutrientes, nega-se a sua cultura, sua identidade, sua história, seus hábitos, suas necessidades, pois tudo isso está contido no que é considerado comida de verdade. Desumanizam as pessoas ao transformar comida em ração.

A contramão do programa "Alimento para todos" seria pensarmos conjuntamente em fortalecer estratégias que envolvam bancos de alimentos, restaurantes populares, pontos de venda pelas periferias da cidade, valorização e incentivo da agricultura urbana, estrutura para a realização de educação ambiental e nutricional nas escolas, incentivo e apoio para a produção agroecológica dos pequenos produtores que hoje encontram-se no município de São Paulo, investimento em um sistema robusto de logística para que haja uma distribuição mais adequada dos alimentos in natura, enfim, há muito o que se fazer e muitas as possibilidades para a construção da alimentação saudável em uma cidade do tamanho de São Paulo.

Acredito que ainda vale a esperança na construção concreta de uma alternativa, há diversos projetos sendo realizados pela sociedade civil direcionados para agroecologia e que envolvem um olhar empático sobre a alimentação do outro.

Conheça a deputada
Sâmia Bomfim

Sâmia Bomfim tem 30 anos, foi vereadora de São Paulo e, atualmente, é deputada federal pelo PSOL. Elegeu-se com 250 mil votos, sendo a mais votada do partido e a oitava mais votada de todo o estado de São Paulo. Seu mandato jovem, feminista e antifascista levanta bandeiras que a maioria dos políticos não tem coragem de levantar. Ela é linha de frente no enfrentamento do conservadorismo e na oposição aos desmandos do governo Bolsonaro, defendendo sempre a maioria do povo.

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