Sâmia Bomfim

    Não investir em drenagem é colocar vidas em risco

    As enchentes nunca vão acabar. O poder público precisa estar preparado para elas. Doria não estava.

    Por Monica Seixas, jornalista, militante do PSOL, feminista e ambientalista.


    A primeira chuva do outono deixou 2 mortos em São Paulo. Um bebê. A cidade convive com o resultado de uma urbanização não planejada e uma péssima convivência com sua água. Foram mais de 4 mil kms de corpos d'água canalizados, cerca de 300 rios e córregos que cortam a cidade, e por cima, asfalto, carro e prédio.

    Quase um século depois dessa canalização, a rede de drenagem de águas, por onde escoa a água da chuva é pequena e entupida demais pra dar conta da quantidade de água que cai nas chuvas - e tem caído mais água na rede; da chuva e também porque mais de 60% da água distribuída nas torneiras em São Paulo é importada das bacias hidrográficas vizinhas, o que aumenta o volume água circulando pela cidade.

    Além disso a rede de drenagem de águas pluviais se encontra com o esgoto. E nada dessa água é usada para o abastecimento das pessoas. O solo muito impermeabilizado pelo asfalto acumula água na superfície da cidade. Nada penetra em tanto asfalto. A falta de manutenção deixa um legado de bocas de lobo entupidos. As ocupações das margens dos rios colocam vidas bem em locais por onde a água extravasa. E a cheia nunca vai deixar de existir. Ignorar que quando chove o rio avança sobre suas margens é uma burrice sem tamanho. É ignorar O ciclo natural da vida. Vai ter enchente pra sempre. Nós é que temos que sair das margens dos rios.

    O Rio Pinheiros? É realmente a gelatina que a gente acha que ele é. Nem corre mais. Está morto pelo esgoto que a Sabesp não trata. E se não corre, não escoa e quando chove, transborda muito mais rápido do que seria normalmente. Toda a água que passa pelos canos de São Paulo terminam em um único local: o Rio Tietê. Onde os demias rios da cidade se encontram. Assim vale frisar mais uma vez: que São Paulo alaga está dado. Infelizmente.

    Nesse cenário chama a atenção que a prefeitura de São Paulo tenha optado por deixar de investir em drenagem. Foi utilizado apenas 21% dos recursos disponíveis para isso nesse ano. Se não for de uma falta de preparo absurda é de uma crueldade sem igual. A única saída emergencial para os alagamentos e enchentes de fim de verão é estar preparado para retirar a água das areas de ocupação humana.

    Gestor após gestor e, sobretudo, a escolha de Doria de não investir em combate a enchentes, têm responsabilidade sobre essas mortes. Não foi só São Pedro.

    Mas o que podemos fazer agora? Para além do emergencial das chuvas de março?  O problema é gigantesco e tem que ser encarado de frente. De forma sistêmica. Mas a solução é também natural.

    O desassoreamento dos rios, a ampliação dos sistemas de retenção de água, principalmente com políticas específicas para a coleta através de cisternas para que as pessoas reutilizem essa água depois, a melhoria do sistema de alerta para a população sobre a possibilidades de grandes precipitações. O fechamento das marginais para trânsito diante desses alertas,  de emergências, uma política mais eficiente e em campanhas para a gestão de resíduos para que o lixo pare de entupir a rede e assorear os rios e piscinões e a criação de comissão específica dentro da secretaria de urbanismo são algumas das nossas propostas para enfrentar o problema. 

    Temos que superar os piscinões. Esse modelo realmente não funciona: a água de chuva carrega terra e lixo. Quando o piscinão seca, a terra fica. Você já viu como é a manutenção de um piscinão? É uma escavação. É como se tivéssemos que construir o piscinão de novo! Você acha que o Poder Público tem capacidade de ficar fazendo isso todo ano, em todos os piscinões? É claro que não. Mas, ainda assim, estamos construindo piscinões. Doria prometeu 20 novos. Pelo menos as empreiteiras ficarão contentes.

    Outras soluções para contenção de água já vem se mostrando mais eficientes como a construção de parque lineares (sem concreto nos leitos) em que a água tem espaço para escoar durante a chuvas. E em volta, as areas verdes servem de lazer e também como pontos de absorção de água.

    Nos defendemos uma política de ocupação do solo que não agrave a questão da impermeabilização. Existem hoje diversas técnicas de intervenção de uso do solo para minimizar o impacto da impermeabilização. E é também por isso que estamos, desde o início do ano na luta pela defesa dos parques como o Augusta e o Bixiga. Essas áreas verdes deveriam se multiplicar pela cidade aumentando as áreas em que a água pode penetrar no solo.

    São Paulo precisa avançar na arborização, e em áreas verdes. São Paulo precisa enfrentar a especulação imobiliaria e os interesses das grandes empreiteiras obsessivamente como uma medida de saúde pública. Temos que começar a quebrar concreto ou pessoas continuarão morrendo.

    Conheça a deputada
    Sâmia Bomfim

    Sâmia Bomfim tem 30 anos, foi vereadora de São Paulo e, atualmente, é deputada federal pelo PSOL. Elegeu-se com 250 mil votos, sendo a mais votada do partido e a oitava mais votada de todo o estado de São Paulo. Seu mandato jovem, feminista e antifascista levanta bandeiras que a maioria dos políticos não tem coragem de levantar. Ela é linha de frente no enfrentamento do conservadorismo e na oposição aos desmandos do governo Bolsonaro, defendendo sempre a maioria do povo.

    Nossas bandeiras
    na Câmara Federal

    • Lutar pelo impeachment de Bolsonaro.
    • Lutar para ampliar e garantir os direitos das mulheres.
    • Defender as vidas, os empregos e os direitos das brasileiras e dos brasileiros diante da pandemia de Covid-19.

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