Sâmia Bomfim

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Junho LGBT: colorir as ruas e a política

O Brasil é o país que mais mata LGBT no Mundo, sendo que São Paulo é uma das cidades com maior índice de violência contra essa população!

Em 28 de junho de 1969, travestis, transexuais, lésbicas, gays e drag queens se levantaram contra a repressão e perseguição que sofriam da polícia de Nova York. Conhecida como a Revolta ou Batalha de Stonewall, a data marca o Dia Internacional do Orgulho LGBT.
 
A comunidade LGBT de Nova York vivia em guetos na década de 1960, pois encontravam em poucos espaços a possibilidade de exercer sua identidade de gênero e orientação sexual sem repressão ou discriminação. Stonewall Inn era uma das casas noturnas, no bairro de Greenwich Village, onde as LGBT podiam se encontrar e serem respeitadas. Mas mesmo este espaço de liberdade foi violado pelo preconceito e intolerância do Estado: a polícia invadiu Stonewall Inn violentamente. Pessoas revistadas e agredidas. Não era a primeira ocasião que a violência estatal acontecia, mas dessa vez transformou-se numa forte revolta entre os presentes no bar e nos estabelecimentos no entorno, que revidaram contra a ação policial. 13 pessoas foram presas. No dia seguinte, novamente aconteceu um forte confronto entre policiais e LGBTs. Três dias depois, mais de mil pessoas foram ao local e confirmaram uma batalha ainda maior contra os policiais. No aniversário de 1 ano da batalha de Stonewall, 10 mil pessoas se dirigiram em frente ao bar e realizaram uma grande marcha.

REPRODUÇÃO
 
As Paradas LGBT acontecem em várias cidades ao redor do mundo no mês de junho para retomar a histórica data da batalha de Stonewall. Há duas semanas, a Av. Paulista foi tomada por mais de 3 milhões de pessoas. A Parada é um momento de muita alegria e festa, sem deixar de ser uma manifestação política. O tema desse ano foi: "Estado Laico", trazendo uma importante reflexão sobre a influência do fundamentalismo na política nacional através das bancadas conservadoras presentes nas diferentes Câmaras e instâncias de poder do Brasil. Os governos dos últimos anos se adaptaram ao crescimento destas bancadas e estabeleceram acordos políticos e econômicos no sentido de fortalecer o que há de mais retrógrado na política brasileira. A bancada fundamentalista conta com mais de 70 deputados no Congresso Nacional.
 
Impossível não lembrar que, em nome da governabilidade, por exemplo, o PT garantiu com que Marco Feliciano (PSC) assumisse a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Ainda, este mesmo governo barrou qualquer discussão sobre gênero e diversidade nas escolas. Sob esse mesmo argumento que Eduardo Cunha (PMDB) alçou sua vida política enquanto base aliada dos governos do PT, além de sua postura misógina que fez com que centenas de mulheres fossem às ruas, o ex-deputado também apresentou propostas como a instauração do "Dia do Orgulho Hétero" e criminalização da heterofobia. Nesse limbo, a figura de Jean Willys (PSOL) é indispensável e coloca a luta contra as opressões também na pauta do dia dos espaços de poder, bem como a toda a bancada do PSOL. Sem contar que em um momento de crise política e econômica são as minorias que mais sofrem com as medidas neoliberais dos governos, assim, colocando a luta das LGBT também na rota da resistência em defesa dos nossos direitos. Aos LGBT são destinados os empregos precários, com destaque para a população T, a qual 90% encontra-se na prostituição porque são ignorados pelo mercado de trabalho formal, são muitas vezes expulsos de suas casas e escolas.
 
O Brasil é o país que mais mata LGBTs no Mundo, sendo que São Paulo é uma das cidades com maior índice de violência contra essa população. Nos último anos, depois de muita luta, obtivemos avanços, como por exemplo, o direito de adoção para casais homoafetivos, no entanto, é indiscutível que ainda há muito para ser feito, principalmente no que tange à saúde, educação, emprego da população transgênera, travesti e lésbica. É alarmante que a expectativa de vida das Trans* e travestis seja de 33 anos de idade e não exista qualquer medida do Estado para que isso se reverta, bem como a inclusão deste segmento no mercado mercado de trabalho. No âmbito da saúde, se o fato de ser mulher já torna muitos atendimentos opressores, para as mulheres lésbicas isso é ainda mais evidente, simplesmente porque a nossa sociedade ainda não aceita que a possibilidade de uma mulher não precisar de um homem para se satisfazer.


 
A partir disso, é urgente que a Câmara Municipal de São Paulo discuta políticas públicas efetivas que tornem a nossa cidade mais democrática. Foi por isso que realizamos nesta semana, no dia do Orgulho LGBT, através da Comissão de Direitos Humanos, uma Audiência Pública sobre os avanços e retrocessos para a população LGBT em São Paulo. Estiveram presentes cerca de 250 pessoas, um momento histórico para a Câmara de São Paulo. Infelizmente as LGBTs estão ausentes dos espaços de decisão e poder e acompanham seus direitos sofrerem retrocessos. O propósito da audiência era justamente tentar inverter essa lógica e abrir uma oportunidade para que o poder público receba e escute as demandas que costuma ignorar.

Foi apenas um primeiro passo, ainda precisamos avançar muito. Este ano a Frente Parlamentar Evangélica é muito forte na Câmara, mas estamos dispostos, junto a outros mandatos parceiros, a enfrentar o preconceito e o fundamentalismo e batalhar pela aprovação de projetos anti LGBTfobia. Um dos temas mais falados na audiência são retrocessos no projeto Transcidadania, a falta de políticas contra o preconceito e intolerância nas escolas e serviços públicos, ausência de tratamento hormonal nos postos de saúde do município, falta de formação e preparo dos profissionais de saúde sobre as especificidades de cada um dos segmentos LGBT, fechamentos de CTAs (Centro de referência em atendimento de DST/AIDS) e as muitas faces da transfobia institucional.
 
A Parada LGBT ainda possui um caráter comercial muito forte, é verdade. Este ano, em especial, pudemos ver muitas marcas e empresas tendo uma aparição destacada em meio à festa de luta e resistência. Mas o fato de 3 milhões de pessoas terem ocupado a Avenida Paulista pelo direito de amar e ser justamente quem se é escancara que a população LGBT existe e não pode continuar morrendo por conta do preconceito e intolerância. Precisamos cada vez mais unir forças para que construamos uma cidade mais colorida, generosa e democrática.

Conheça a deputada
Sâmia Bomfim

Sâmia Bomfim tem 30 anos, foi vereadora de São Paulo e, atualmente, é deputada federal pelo PSOL. Elegeu-se com 250 mil votos, sendo a mais votada do partido e a oitava mais votada de todo o estado de São Paulo. Seu mandato jovem, feminista e antifascista levanta bandeiras que a maioria dos políticos não tem coragem de levantar. Ela é linha de frente no enfrentamento do conservadorismo e na oposição aos desmandos do governo Bolsonaro, defendendo sempre a maioria do povo.

Nossas bandeiras
na Câmara Federal

  • Lutar pelo impeachment de Bolsonaro.
  • Lutar para ampliar e garantir os direitos das mulheres.
  • Defender as vidas, os empregos e os direitos das brasileiras e dos brasileiros diante da pandemia de Covid-19.

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